quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Para um desconhecido

Foi por ti que decidi: "vou ser mais!"

(Pouco tempo depois, segundo minha mãe...)

Vou roubar do cego que mendiga na esquina;

Vou desfazer o laço do vestido da pequena;

Vou insultar a minha mãe que da porta me acena:

Ser livre, ser eu, "horrivel e mesquinha".

(Segundo meu pai...)

Vou manter-me na vida de maneira aguda e astuta;

Vou subir a saia a um homem que passar;

Vou deitar-me com ele: gritar, fingir, cobrar!

Ser livre, ser eu, "imunda e prostituta".

«Nódoas negras no meu corpo. E tudo porque nos amámos à frente de todos os olhares curiosos. Ninguém compreendeu porque o fizemos... mas não me arrependo.»

Medos incutidos: agora diminutos, pequenos.

Para trás ficam receios de um passado mais que distante.

Entre a pausa do café e o próximo viajante,

Relembro o dia em que decidi nunca mais ser menos.

«Faço-o agora com todos os homens com que me cruzo, na esperança de te reencontrar no fundo dos olhos de um deles. Fecho os meus e finjo que estás comigo. Sou feliz no instante em que te sinto de novo dentro de mim.»

Tornei-me mais.

Tornei-me tua.

Valeu a pena tornar-me de ninguém.



(9 de Janeiro de 05)

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