E a voz não se cala.
Ela grita-me silenciosamente.
Esmurra-me suavemente.
Donde pensas tu que vêm as nódoas negras?...
«Pedi-te que me ajudasses…Onde estavas tu Deus?..»
As nódoas vão e vem,
Mas e o negro?
Pensas que se dissipa?
Para onde raio vai o negro?!...
«Encaixa-se entre os meus pulmões. Ele impede-me de respirar.»
Ela queria que eu fosse como os outros.
Queria que eu pensasse como os outros.
Desejou que eu fosse uma outra que não eu.
Quem são eles afinal?...
Quem são os outros?
«Agora me lembro das noites de Verão em que desejei a sua morte…»
Eu sei o que quero.
Eu quero rasgar mil folhas como quem rasga um segundo.
Eu quero ser vento com destino nenhum.
Eu quero ser aquela chuva.
«A chuva que cai, que se mistura, mas que nunca se confunde.»
E ela grita cada vez mais alto.
Fá-la calar-se por favor…
Os seus punhos magoam-me a alma.
Acredita em mim:
A alma também pode morrer.
«E também sangra.»
Para que servem as preces se não as ouves?
Para que nos serve a fé senão vens ao nosso encontro?...
Já devia saber que eras assim…
Agora sei que és como os outros.
Pedi-te que me ajudasses.
E onde estavas tu, Deus?..
Nunca estiveste pois não?
Nunca estás em lado nenhum.
Porque estás morto.
«O céu não existe.
Espero que debaixo do chão o mundo se torne mais barulhento para ti esta noite.»
10 de Agosto de 2003
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