domingo, 31 de agosto de 2008

Faço minhas as palavras do Gigante


"Sou um homem ridículo. Agora já quase me tomam por louco. O que significaria ter ganho em consideração, se não continuasse a ser um homem ridículo. Mas eu já não me aborreço por causa disso, agora já não guardo rancor a ninguém e gosto de toda a gente, ainda que se riam de mim... sim senhor; agora, não sei porquê, sinto por todos os meus semelhantes uma ternura especial. Teria muito gosto em acompanhá-los no vosso riso... não, precisamente, nesse riso à minha custa, mas pelo carinho que me inspiram, se não me fizesse tanta pena ver-vos. É pena que não saibam a verdade. Oh, meu Deus!, como é doloroso ser um só a saber a verdade! Mas isto não o compreendem eles. Não, nunca o compreenderiam."


(Dostoievski, em O sonho de um homem ridículo)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Where I end and you begin



Estendo-te a mão para que subas comigo. Até não haver chão. Até caminharmos sobre o ar. Quero que me sigas para que te sentes a meu lado no topo do mundo, onde o som não se propaga e a chamas se apagam com a doce ausência do existir. Quero que apertes os meus dedos quando estivermos quase no cume. Quero que sintas o meu arrepio subir-te pela espinha, abraçar-te a nuca e beijar-te os olhos com frio. Que vejas o nascer do dia no fim do dia. Que vejas como o terminar é o começar de outro nada que mastigo com a tua boca. Quero que adormeças o pulso por instantes e sintas o momento latejar na ponta da tua língua…senti-la gotejar sonhos e aspirações. Quero que os ponhas todos de lado e que sustenhas a respiração; que deixes que os teus olhos se encham de almas que não a tua. Quero que sejas um mundo no teu corpo único. Que sejas eu na palma da tua mão, percorrendo os teus dedos, apertando as tuas unhas… e finalmente voltando a mim com um choque.

Somos explosões mudas.
Electricidade vazia.

Quero que largues a minha mão quando o silvo soar. Aquele que não se ouve, mas se sente formigar debaixo dos nossos pés e os morde com ternuras. Quero que sejamos tu e eu quando estivermos em brasas mortas. Que te lembres que mesmo quando somos um, somos sempre dois: Tu e eu, sem toques e sem palavras.
Quero que olhes sempre em frente, quando chegarmos. Que grites para dentro e não interrompas as minhas lágrimas. Porque eu vou chorar… lágrimas quentes e gordas de medos e alegrias, amores e desgostos, paixões e desavenças. Vou chorar o ódio que tenho por tudo, quando o meu amor por tudo for demasiado para o aguentar dentro do meu peito. Nesse momento, não tenhas medo: peço-te que olhes em frente, e que te lembres que odeio a ordem das coisas porque não sei como amá-la mais. Que a odeio porque a amo, e mesmo quando a mato, faço-o porque não sei como odiá-la mais.

Um pé à frente do outro, caminhamos sobre o nada. Somos ar. Somos a transparência das emoções quando o sentir é mera banalidade de mendigos. Estamos no topo, somos o topo, somos o fim do mundo que deixamos para trás. O fim do início e o início de outro início que não tem fim.

Somos a continuação de todas as coisas.
O amanhã que tarda.

Enlacemos as nossas mãos e sejamos separados, ainda assim. Sejamos sempre a ausência de dois corpos. Sejamos vento que chora e espanto que cala. O frio que corta e a brisa que embala. A luz que queima e o som que apunhala…
Sejamos sempre, e para sempre, a voz que não se ouve, mas, que para sempre, intervala:

O meu ser e o teu ser.





domingo, 3 de agosto de 2008

Ele e Ela

Sei quem ele é
ele é bom rapaz
um pouco tímido até
vivia no sonho de encontrar o amor
pois seu coração pedia mais,
mais calor

Ela apareceu
e a beleza dela
desde logo o prendeu
gostam um do outro e agora ele diz
que alcançou na vida o maior bem,
é feliz.

Só pensa nela
a toda a hora
jonha com ela
p'la noite fora
chora por ela
se ela não vem

Só fala nela
cada momento
vive com ela
no pensamento
ele sem ela
não é ninguém

Sei quem ele é
ele é bom rapaz
um pouco tímido até
vivia no sonho de encontrar o amor
pois seu coração pedia mais,
mais calor

Ela apareceu
e a beleza dela
desde logo o prendeu
gostam um do outro
e agora ele diz
que alcançou na vida o maior bem,
é feliz.

Só pensa nela
a toda a hora
sonha com ela
p'la noite fora
chora por ela
se ela não vem

Só fala nela
cada momento
vive com ela
no pensamento
ele sem ela não é ninguém
ele sem ela não é ninguém
ele sem ela não é ninguém 

"Neste cantinho à beira-mar plantados", Festival Eurovisão - 1966
Letra: Carlos Canelhas
Interpretação: Madalena Iglésias