sábado, 27 de dezembro de 2008





"Afasto o mar com um só grito,
e amo este amor com cara de susto."


-Um adeus perfeito-
Lídia Martinez





sábado, 20 de dezembro de 2008

Dessine-moi un mouton!



"Para mim, esta é a mais bela e mais triste paisagem do mundo. [...] Foi aqui que o principezinho fez a sua aparição na Terra e, depois, desapareceu. Fixem bem esta paisagem para poderem reconhecer se um dia fizerem uma viagem a África e forem ao deserto. Se passarem por este sítio, suplico-vos: não tenham pressa, fiquem um bocadinho à espera mesmo por baixo da estrela! Se vier um menino ter convosco, um menino que se está sempre a rir, com cabelos cor de ouro e que nunca responde quando se lhe faz uma pergunta, já sabem quem ele é. E então, por favor, sejam simpáticos! Não me deixem assim triste: escrevam-me depressa a dizer que ele voltou..."


-O Principezinho-
Antoine de Saint-Exupéry




domingo, 14 de dezembro de 2008

A segunda à direita e sempre em frente, até de manhã




"O número vinte e sete era apenas a uns metros de distância, mas caíra um pouco de neve e os Darling escolhiam o caminho cautelosamente para não sujarem os sapatos. Eram as únicas pessoas na rua e todas as estrelas os observavam. As estrelas são belas, mas não podem tomar parte activa em nada, têm de ficar ali para sempre, a olhar. É um castigo que lhes foi imposto por qualquer coisa que fizeram há já tanto tempo que nenhuma hoje se lembra do que foi. As mais velhas ficaram com olhos de vidro e raramente falam (o piscar é a linguagem das estrelas), mas as pequeninas só pensam. Não são muito amigas de Peter, que tem a mania maldosa de se esgueirar por trás delas e querer apagá-las, mas gostam tanto de brincar que estavam do lado dele naquela noite e desejosas de tirar os adultos do caminho. Por isso, mal se fechou a porta do vinte e sete, depois de o senhor e a senhora Darling entrarem, ouve rebuliço no céu, e a mais pequenina de todas as estrelas da Via Láctea gritou:

- Agora, Peter!"


-Peter Pan-
J. M. Barrie




* * *


Tantas, tantas saudades daqueles tempos...






Um peito que canta o fado tem sempre dois corações


"... e soubesse eu artifícios
de falar sem o dizer
não ia ser tão difícil
revelar-te o meu querer...

a timidez ata-me a pedras
e afunda-me no rio
quanto mais o amor medra
mais se afoga o desvario...

e retrai-se o atrevimento
a pequenas bolhas de ar

e o querer deste meu corpo
vai sempre parar ao mar..."



-Não sei falar de amor-
Deolinda






***

Um album que me ensinou que
Lisboa não é a cidade perfeita, mas Mal por mal, mais vale mandar todos Fon-fon-fon, porque isto Contado ninguém acredita.
Porque na casa ao lado, há sempre uma canção que nos espera.






terça-feira, 9 de dezembro de 2008


É com dentes cerrados e olhos contentes que mordo, baixinho, a vossa brandura:
A classe com que se movem nos recantos escuros dos corredores que intrincam o meu peito, sibilando beijos à minha raiva, batendo o pé ao compasso da minha indiferença...


E é tão mais fácil ser como vós, não é?

Não é?



Não é.

E soubessem vocês que eu hoje não me movo, mas levito sobre o chão;
Que não me perco em noites escuras, porque corro em dias eternos;
Que não grito ternuras à distância, porque a ataco no silêncio que a sufoca;
E que não bato o pé, mas danço, danço, danço sem vos tocar nos ombros,
sem vos pisar os sonhos,
sem vos roubar esperanças.

E tudo porque eu sei que, ao meu ritmo, nenhum de vós se move.






_________________________________________________________________________________


"Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali..."



-Cântigo Negro-
José Régio

domingo, 7 de dezembro de 2008

Oh creepy me!




"A man of words and not of deeds
Is like a garden full of weeds,
And when the weeds begin to grow,
It’s like a garden full of snow.
And when the snow begins to fall,
It’s like a bird upon the wall,
And when the bird away does fly,
It’s like an eagle in the sky.
And when the sky begins to roar,
It’s like a lion at the door.
And when the door begins to crack,
It’s like a stick across your back,
And when your back begins to smart,
It’s like a penknife in your heart,
And when your heart begins to bleed,
You’re dead, you’re dead, you’re dead indeed."

-?-

sábado, 6 de dezembro de 2008


"Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te."


-
Friedrich Nietzsche-



quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A sustentável leveza do Não Ser


... E o silêncio bruto com que te firo esta manhã, são gritos lancinantes que atiro ao vento, na esperança que no arrepio do fim de tarde, não sejas tontura febril no inicio de madrugada.

No querer não te ver nos meus dedos. Na minha nuca. Na minha pele.
Mas principalmente nas minhas palavras.
Na minha boca.

E se ainda assim viveres no meu corpo, abandono-me ao tempo e à sorte numa rua perdida desta cidade, rugindo para ninguém um delírio suplicante:

«Dispam-me de mim e deixem-me ser alma;
Calem-me o amor e deixem-me ser nada...»




segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Tudo isto será, um dia, gasto...






É no momento em que passo as mãos pelo rosto, pela manhã, quando me fito no espelho, que sei que vivo numa casa de portas e janelas seladas; de tectos baixos e chãos de areia preta.

É no choque com a água fria que sinto os anos de ausência de alguém que me veja com olhos de ver, com olhos que não me atravessem, mas que se prendam na doce lentidão da descontinuidade do meu pestanejar.

É no momento em que corro em círculos no meu quarto e levanto pó com os meus pés que sei que ainda sou prisioneira numa caixa de fósforos que já não podem arder.

“Húmidos das minhas lágrimas.”


E então juro que quero sorrir.
Juro que quero sair.
E prometo que ainda sou a mesma quando a última hora do dia dá de si.

Mas eles não querem saber.
Agora tudo o que consigo sentir na boca é gosto dos corações dilacerados
pela fome da madrugada que parte sem olhar para trás e bate com a porta:

num estrondo.
Num fechar de um livro velho.
Num último gole de café queimado que me morde os lábios com amor de plástico.


É no voltar à cama, no cobrir o rosto com o cobertor, no pedir aos deuses que me roubem a vista, que sei que não é para sempre: não, este sono não é para sempre. Esta vontade de não ter vontade, não é para sempre. Este sempre para sempre não é para sempre, porque nunca nada o é eternamente. Nem eu, nem vocês, nem este momento, aqui e agora, que também já passou.
Tudo isto será, um dia, gasto…

Aconchego-me sobre a almofada e durmo um sono solto; sonho um sonho quente: nada é eterno e tudo isto será, um dia, chamas...


... porque eu hei-de parar de chorar
(enterrar este Eu que hoje me arrasa);

E quando aquele fósforo secar,
ainda que nunca me vá perdoar,
Pego fogo a tudo nesta casa.


______________________________________________________________




"You've built all these rooftops
And painted them all in blue
If all this set just burns up will you paint the ashes?"


-Haunted home-
David Fonseca