sábado, 26 de abril de 2008

Não me vês, não me ouves

Pergunto-te:



Consegues ver-me?

Os meus olhos que te perseguem quando caminhas no lado errado da estrada;

Que percorrem a tua nuca e se prendem no sorriso que nunca esboças;

Que te murmuram o que os lábios calam, mesmo quando o ruído de fundo o esmagaria com banalidades de almas errantes.



«Condenadas ao quotidiano…»



Consegues senti-las?

As minhas mãos que se enlaçam nas tuas quando meia cidade nos separa;

Que contornam o teu rosto quando te espantas com o mundo;

Que ousam amar-te como as palavras não conseguem e te sussurram como os lábios selados desejam fazê-lo.



«O sublime de um toque demorado…»



Consegues ouvi-los?

Os meus lamentos que ecoam naquela avenida que esquecemos o nome;

Que batem às portas em busca do consolo de alguém que também ame um mero sonho;

Que te gritam baixinho e que, mesmo quando dormes um sono solto e leve, nunca te acordam.



«Murmúrios acutilantes sem destino…»



Sento-me aqui e penso no sentido de todas estas coisas. Calo-me. Para quê falar? Se tudo o que te consigo dizer é dialecto de parte nenhuma. Fecho os olhos. Para quê ver? Miscelânea de vultos tenebrosos que me cercam de todos os lados. Volto costas. Não quero ouvir. Porque o que tens para me dizer não responde às minhas perguntas.


Pára.

Pára de caminhar no lado errado da estrada.

Pára de não esboçar aquele sorriso.

Não te espantes com o mundo.

Não enlaces as minhas mãos de volta.

Lembra-te do nome daquela avenida.

Sê mero sonho de outra pessoa.

Dorme para sempre.

Não me vejas.

Não me oiças.

Não me ames.

E se um dia te voltar a perguntar,

Não me respondas.



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Ao som dos meus conterrâneos Hands on Approach, Tão perto e tão longe.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Mil anos de Nada

No último olhar, naquele último adeus dito com a força de mil sóis que explodiam e faziam borbulhar as lágrimas no canto dos meus olhos, soube que era para sempre. Disseste-me para não olhar para trás quando largássemos as mãos e virássemos costas a nós mesmos (porque sabes que não existimos nunca um sem o outro, nunca completamente; eu fui eu contigo, e tu sem mim, não serias nunca), mas não o fiz. Tu sabias que não o faria.

Lembras-te de mim? Aquela que te implorou que agarrasses o momento com as duas mãos e mordesses o espanto. Quem te levantou do chão vezes sem conta quando o mundo girava anormalmente depressa e te fazia tropeçar nas dúvidas que te estalavam no cérebro. Aquela que soube quem tu eras no meio da multidão de rostos sem feições.

Aquela que ainda hoje se lembra de ti.

Lembro-me da manhã em que te vi sonhar com passagens bíblicas; de como aquelas lengalengas rodopiavam nos teus lábios que sopravam delírios dementes; de como te sentaste no meio da estrada e beijaste o asfalto quente com ternura de irmão; de como me sentei com um estranho perante os incrédulos e fechei os olhos: fui chão. A mim todos passos de uma humanidade que arrasta os pés!

Mas não fomos apenas feitos de momentos de poesia pois não? Fomos feitos de monotonia, rotina, tédios incertos. Fomos tardes sem nada para fazer. Fomos silêncios desconfortáveis em dias de estranha lucidez, em que desesperávamos por aquela gota de loucura que nos levava sempre para o lado de lá (o mundo dos loucos) e ressacávamos por teorias insanas sobre detalhes absurdos das vidas de pessoas que existiam apenas na nossa cabeça.

Lembro-me de atravessar paredes contigo. Lembro-me de quando saltamos para o abismo e acordamos de mãos dadas. Lembro-me de morrer e de nascer contigo, outra e outra vez.


«Outra e outra vez. Mil anos de ti.»


Mas quando, naquela madrugada, me levaste a molhar as mãos no mar e me olhaste com os olhos vazios, soube que era para sempre. Porque dentro desse peito já não eras tu, pois não? Não, bem sei que não eras tu. Quando me disseste para não olhar para trás e seguisse o meu caminho, foi o último instante em que exististe. Quando largámos as mãos já não eram as nossas mãos, pois não? Porque as minhas mãos são minhas quando as tuas mãos são minhas, e agora já nada de ti é meu. Mas mesmo assim olhei uma última vez, um último adeus: não a ti, mas a mim própria.

Porque já nada de mim é teu, tornas-te do Mundo.

Porque já nada de ti é meu, sou de Ninguém.

Esgoto-me. Acabo. Chego ao fim.

E enfrento mil anos de nada.



quarta-feira, 2 de abril de 2008

Grito da alma


Ontem nada fui, porque nada senti,

Em nada me tornei, e por fim...nada vi!

Romeiro do meu suplicio me converti,

Porque não fui, não observei...não existi!

 

Sorrir; chorar; É gritar com a alma,

É Ser o Homem de hoje e de amanhã,

É palmilhar o canto do existir

Numa aliteração da rotina vã.

 

Quero sorrir; chorar; quero gritar;

Enfim...quero voar; quero amar; quero ser LIVRE!

Ter-te comigo...como por nunca tive!

 

Hoje vivo porque chorei, hoje estou aqui,

Porque sorri, mesmo pequeno por ti rogo,

Viver é bom, por isso, chora e ri!