sábado, 27 de dezembro de 2008





"Afasto o mar com um só grito,
e amo este amor com cara de susto."


-Um adeus perfeito-
Lídia Martinez





sábado, 20 de dezembro de 2008

Dessine-moi un mouton!



"Para mim, esta é a mais bela e mais triste paisagem do mundo. [...] Foi aqui que o principezinho fez a sua aparição na Terra e, depois, desapareceu. Fixem bem esta paisagem para poderem reconhecer se um dia fizerem uma viagem a África e forem ao deserto. Se passarem por este sítio, suplico-vos: não tenham pressa, fiquem um bocadinho à espera mesmo por baixo da estrela! Se vier um menino ter convosco, um menino que se está sempre a rir, com cabelos cor de ouro e que nunca responde quando se lhe faz uma pergunta, já sabem quem ele é. E então, por favor, sejam simpáticos! Não me deixem assim triste: escrevam-me depressa a dizer que ele voltou..."


-O Principezinho-
Antoine de Saint-Exupéry




domingo, 14 de dezembro de 2008

A segunda à direita e sempre em frente, até de manhã




"O número vinte e sete era apenas a uns metros de distância, mas caíra um pouco de neve e os Darling escolhiam o caminho cautelosamente para não sujarem os sapatos. Eram as únicas pessoas na rua e todas as estrelas os observavam. As estrelas são belas, mas não podem tomar parte activa em nada, têm de ficar ali para sempre, a olhar. É um castigo que lhes foi imposto por qualquer coisa que fizeram há já tanto tempo que nenhuma hoje se lembra do que foi. As mais velhas ficaram com olhos de vidro e raramente falam (o piscar é a linguagem das estrelas), mas as pequeninas só pensam. Não são muito amigas de Peter, que tem a mania maldosa de se esgueirar por trás delas e querer apagá-las, mas gostam tanto de brincar que estavam do lado dele naquela noite e desejosas de tirar os adultos do caminho. Por isso, mal se fechou a porta do vinte e sete, depois de o senhor e a senhora Darling entrarem, ouve rebuliço no céu, e a mais pequenina de todas as estrelas da Via Láctea gritou:

- Agora, Peter!"


-Peter Pan-
J. M. Barrie




* * *


Tantas, tantas saudades daqueles tempos...






Um peito que canta o fado tem sempre dois corações


"... e soubesse eu artifícios
de falar sem o dizer
não ia ser tão difícil
revelar-te o meu querer...

a timidez ata-me a pedras
e afunda-me no rio
quanto mais o amor medra
mais se afoga o desvario...

e retrai-se o atrevimento
a pequenas bolhas de ar

e o querer deste meu corpo
vai sempre parar ao mar..."



-Não sei falar de amor-
Deolinda






***

Um album que me ensinou que
Lisboa não é a cidade perfeita, mas Mal por mal, mais vale mandar todos Fon-fon-fon, porque isto Contado ninguém acredita.
Porque na casa ao lado, há sempre uma canção que nos espera.






terça-feira, 9 de dezembro de 2008


É com dentes cerrados e olhos contentes que mordo, baixinho, a vossa brandura:
A classe com que se movem nos recantos escuros dos corredores que intrincam o meu peito, sibilando beijos à minha raiva, batendo o pé ao compasso da minha indiferença...


E é tão mais fácil ser como vós, não é?

Não é?



Não é.

E soubessem vocês que eu hoje não me movo, mas levito sobre o chão;
Que não me perco em noites escuras, porque corro em dias eternos;
Que não grito ternuras à distância, porque a ataco no silêncio que a sufoca;
E que não bato o pé, mas danço, danço, danço sem vos tocar nos ombros,
sem vos pisar os sonhos,
sem vos roubar esperanças.

E tudo porque eu sei que, ao meu ritmo, nenhum de vós se move.






_________________________________________________________________________________


"Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali..."



-Cântigo Negro-
José Régio

domingo, 7 de dezembro de 2008

Oh creepy me!




"A man of words and not of deeds
Is like a garden full of weeds,
And when the weeds begin to grow,
It’s like a garden full of snow.
And when the snow begins to fall,
It’s like a bird upon the wall,
And when the bird away does fly,
It’s like an eagle in the sky.
And when the sky begins to roar,
It’s like a lion at the door.
And when the door begins to crack,
It’s like a stick across your back,
And when your back begins to smart,
It’s like a penknife in your heart,
And when your heart begins to bleed,
You’re dead, you’re dead, you’re dead indeed."

-?-

sábado, 6 de dezembro de 2008


"Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te."


-
Friedrich Nietzsche-



quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A sustentável leveza do Não Ser


... E o silêncio bruto com que te firo esta manhã, são gritos lancinantes que atiro ao vento, na esperança que no arrepio do fim de tarde, não sejas tontura febril no inicio de madrugada.

No querer não te ver nos meus dedos. Na minha nuca. Na minha pele.
Mas principalmente nas minhas palavras.
Na minha boca.

E se ainda assim viveres no meu corpo, abandono-me ao tempo e à sorte numa rua perdida desta cidade, rugindo para ninguém um delírio suplicante:

«Dispam-me de mim e deixem-me ser alma;
Calem-me o amor e deixem-me ser nada...»




segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Tudo isto será, um dia, gasto...






É no momento em que passo as mãos pelo rosto, pela manhã, quando me fito no espelho, que sei que vivo numa casa de portas e janelas seladas; de tectos baixos e chãos de areia preta.

É no choque com a água fria que sinto os anos de ausência de alguém que me veja com olhos de ver, com olhos que não me atravessem, mas que se prendam na doce lentidão da descontinuidade do meu pestanejar.

É no momento em que corro em círculos no meu quarto e levanto pó com os meus pés que sei que ainda sou prisioneira numa caixa de fósforos que já não podem arder.

“Húmidos das minhas lágrimas.”


E então juro que quero sorrir.
Juro que quero sair.
E prometo que ainda sou a mesma quando a última hora do dia dá de si.

Mas eles não querem saber.
Agora tudo o que consigo sentir na boca é gosto dos corações dilacerados
pela fome da madrugada que parte sem olhar para trás e bate com a porta:

num estrondo.
Num fechar de um livro velho.
Num último gole de café queimado que me morde os lábios com amor de plástico.


É no voltar à cama, no cobrir o rosto com o cobertor, no pedir aos deuses que me roubem a vista, que sei que não é para sempre: não, este sono não é para sempre. Esta vontade de não ter vontade, não é para sempre. Este sempre para sempre não é para sempre, porque nunca nada o é eternamente. Nem eu, nem vocês, nem este momento, aqui e agora, que também já passou.
Tudo isto será, um dia, gasto…

Aconchego-me sobre a almofada e durmo um sono solto; sonho um sonho quente: nada é eterno e tudo isto será, um dia, chamas...


... porque eu hei-de parar de chorar
(enterrar este Eu que hoje me arrasa);

E quando aquele fósforo secar,
ainda que nunca me vá perdoar,
Pego fogo a tudo nesta casa.


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"You've built all these rooftops
And painted them all in blue
If all this set just burns up will you paint the ashes?"


-Haunted home-
David Fonseca



sábado, 29 de novembro de 2008

A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida



"Sábio é quem monotoniza a existência, pois então cada pequeno incidente tem um privilégio de maravilha. O caçador de leões não tem aventura para além do terceiro leão. Para o meu cozinheiro monótono uma cena de bofetadas na rua tem sempre qualquer coisa de apocalipse modesto. Quem nunca saiu de Lisboa viaja no infinito no carro até Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte. O viajante que percorreu toda a terra não encontra de cinco mil milhas em diante novidade, porque encontra só coisas novas; outra vez a novidade, a velhice do eterno novo, mas o conceito abstracto de novidade ficou no mar com a segunda delas."


-Livro do desassossego-
Fernando Pessoa




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E agora também eu caminho sobre a monotonia, aspirando a que todos os dias tenham para mim qualquer coisa de apocalipse modesto...
À espera de um privilégio de maravilha, que eu sei que virá.

Mesmo que não seja hoje.
Ou amanhã.
Ou convosco.

Mas que virá.




domingo, 16 de novembro de 2008

Tentar por alguma ordem neste caos




Pelo menos assim espero.


Os meus posts tornaram-se em desabafos lamurientos que, quase sempre, falam do mesmo e são feitos a pensar nas mesmas pessoas.


Estou farta desses posts,

dessas lamurias e,

principalmente,

dessas pessoas.



Vou espairecer.
Ver jardins e campos abertos.
Vou ao cinema e ler em praças.
Vou tentar voltar a descobrir cantinhos de Setúbal que me façam querer estar aqui.

Vou tentar ser melhor...

e depois volto.


sábado, 15 de novembro de 2008

Confessá-lo seria assim...




... como levantar a blusa, apontar no meu peito nú, e dizer:

O meu coração fica exactamente aqui.


E fazer figas para que as pessoas não andem armadas.
Mas eu recuso-me. Finco os dois pés neste chão e recuso-me.
E pago o meu preço.

E eles nunca saberão a verdade.





sexta-feira, 14 de novembro de 2008



"(...) E naquele lugar adormecemos, por fim, exaustos, como se adormecêssemos no fim do mundo.
Hoje, nada mais se move, mesmo no fundo da memória. Caminhamos sob o mapa das constelações, tão antigo quanto os homens e os animais da terra - tão antigo quanto a morte e a vida. Ao longe, vemos o clarão de néon húmido da cidade. Pernoitamos na orla de um tempo sem relógios, e de manhã choramos ao encontrarmos nossos corpos abraçados na intensa nudez das açucenas.
Enquanto dormias a meu lado mantive-me acordado, e sonhava contigo. Dizia para mim mesmo aquilo que não sabia dizer-te quando acordasses:

Vem e cobre a minha sombra cansada, antes que o vento a disperse ao amanhecer. Pega-me nas mãos, apaga a dor da luz nas pálpebras e leva-me. Leva-me se puderes, de regresso à noite das cidades, ou estaremos condenados a arder no acre suco dos eufórbios..."



-Lunário-
Al Berto



quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A procura


Finalmente fomos apenas tu, eu e o eco do silêncio, dentro de uma caixa de fósforos.

Não te via, mas soube que tinhas os olhos abertos, mergulhados nas trevas, na esperança de veres o meu rosto iluminar-se com o sorriso meigo que sempre te ofereci sem cobranças… Mas passado tanto tempo, já não te sorrio no escuro. Não te passo a mão pelo rosto nem te aconchego, nos meus sonhos, com os lábios.

Não te via, mas soube que as tuas mãos procuravam as minhas no vazio, devagar, mas sem cansaços. Perdoa-me, se puderes, por já não ter ternuras para te dar… Os meus abraços estão gastos e os meus olhos fechados; já não te procuro. Agora que sei onde estás, já não te procuro.

Quando, uma vez, acordei cansada de existires, perguntei-me o que faria se o dia chegasse. Se um dia decidisses que era tempo de retribuir a minha vida com um toque, perguntei-me o que faria… e soube que não o faria. Não tenho mais vida para te dar e a paz na minha morte é minha e não ta dou. E se me deixo cair no escuro, de olhos fechados e com um sorriso voltado do avesso, é porque agora sei ser feliz sem que olhes para mim ou me toques com esses dedos que senti apenas algumas vezes, de passagem, por tentarmos existir ao mesmo tempo, no mesmo espaço, chocando desejos.

Não te via, mas senti-te avançar para mim, puxar o meu corpo do chão e implorar-me por alguma alegria. Não te via, mas senti os teus dedos entrelaçarem-se nos meus, suplicando apertos, beliscando cuidados. Não te via, mas no meio da tua tristeza calada, senti-te chorar um beijo. Um beijo morno e demorado, dado com lágrimas e soluços culpados, por nunca me teres visto quando éramos tu e eu à luz do dia.
Ouvi música, vi o mar, corri num campo aberto. E no centro do meu mundo, a vibração do pulsar de uma réstia de vida.

E então, procurei-te.

As minhas mãos encheram-se de ternuras envoltas em laços e papel de embrulho; e os meus braços apertaram o ar, na ânsia de te acomodar junto ao meu peito. Mas os meus olhos permaneceram fechados, porque te vi. Quando não te olhava, finalmente vi-te. Quando não me tocavas, enfim fomos um.
E é agora, ainda no escuro, baixinho, que te peço:

Beija-me outra vez daí de onde estás. Beija-me sem lábios, sem palavras. Mas beija-me com força. Beija-me com certeza.

E tu permaneceste imóvel.
E limpaste as lágrimas.
E beijaste-me com força, com certeza, até a minha alma se sentir beijada.



terça-feira, 11 de novembro de 2008

E tu... não me hei-de esquecer da tua voz.





"Esta mesma rapariga, entenda as mulheres quem puder, que é a mais bonita de todas as que aqui se encontram, a de corpo mais bem feito, a mais atraente, a que todos passaram a desejar quando correu a voz do que valia, foi afinal, uma noite destas, meter-se por sua própria vontade na cama do velho da venda preta, que a recebeu como chuva de Verão e cumpriu o melhor que podia, bastante bem para a idade, ficando por esta via demonstrado, mais uma vez, que as aparências são enganadoras, e que não é pelo aspecto da cara e pela presteza do corpo que se conhece a força do coração."


-Ensaio sobre a cegueira-
Saramago







sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Era uma casa muito engraçada, não tinha tecto não tinha nada...


Disseste-me um dia que, se me perdesse por esse mundo fora, podia deitar-me no meio do nada e sentir-me em casa. Porque o chão é todo um. Porque todos caminhamos sobre o mesmo mundo.
Que se me deixasse ficar deitada no vazio tempo suficiente, alguém acabaria por me encontrar.
Alguém me tocaria no ombro, com brandura, e me diria:

«Anda, vamos para casa.»

E eu levantar-me-ia.
E ia.



Mas é mentira.
Eu fi-lo... e é tudo mentira.




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"Home... I can't say where it is but I know I'm going home
That's where the hurt is."



-Walk on-
U2



terça-feira, 4 de novembro de 2008

Deixa morrer


Em certas manhãs de Abril, eu quero tudo.

Quando o céu desaba, entre os meus dedos, no meu bolso, e os rostos com que me cruzo me gritam que o fim do mundo é hoje ao fim da tarde, eu quero tudo o que eu quero, tudo o que tu queres e tudo o que eles desejam à distância de uma falha no meu pulso.

Bato a porta com a fúria de quem fui há anos e saúdo o exist
ir com a alegria de hoje, que é minha e só minha; reclamo-a para mim e escondo-a atrás das costas de mãos apertadas e faces ardentes, coração pequenino e suspiros intermitentes, para que não saibas que sou feliz nos dias de chuva.

Caminho sobre as poças escuras e amo a tempestade que me desgrenha os cabelos como te amei nos dias que pintámos de nuvens incandescentes. Sorrio ao estranho que me aborda no passeio e me estende publicidade que não leio nunca: também ele arde sob a chuva que não nos molha: a nós, os escolhidos.

Fomos os escolhidos para dançar entre os que caminham entre o nada e o quase-nada, tremendo sob o doce da água que os gela por dentro, secando as pedras da calçada com ternuras sopradas no restolhar da eternidade que nos abraça a cada passo que damos, decididos. Nessas manhãs sou uma só com o mendigo que me oferece a mão e me abençoa com um obrigado salgado. Sento-me com ele no cartão e mordo o mesmo naco de pão envolto em jornal, desfeito pela água que o lava e me aconchega o peito. E aqueço-o com beijos que lhe dou com os meus olhos e guardo o sorriso que me retribui com a boca, junto ao amor que ainda tenho por ti.

Gosto de ti assim: com os olhos, com obrigados temperados pela distância entre ti e o que quero nos manhãs cinzentas de Primavera. Quero-te assim, com intervalos nos dias em que o sol brilha e os braços me pendem ao longo do corpo, sem alegrias para esconder. E amo-te assim, quando aperto as estrelas entre o polegar e o indicador e imploro aos deuses que me concedam mais um dia de chuva sem te ver.

E quando esse dia chega, estendo-te a mão e beijo-te um pedido:
Deixa-me ser sozinha com o tumulto da tua ausência.
Apenas porque sim.
Apenas porque não pode ser de outra forma.

Apenas porque te peço:

Deixa o nosso amor morrer…





* * *



“Amar é bom se houver no fundo de um de nós alguma solidão.”


-Deixa morrer-
Ornatos Violeta









sábado, 1 de novembro de 2008

O medo dizima e aquilo que eu penso enrola-se em ventos que hão-de uivar por aí...



"E se cada gesto teu for uma lágrima no meu rosto,
É porque cada sonho meu é um poema a teu gosto.
Ninguém ensina o amor
ou o silêncio..."







Jorge Cruz



domingo, 26 de outubro de 2008




Porque caminhas, ainda, atrás de mim? Abrandaste o passo, cobres as minhas pegadas para não deixares marca do teu existir comigo, mas sinto-te respirar sobre a minha nuca, cobrindo-me as costas, queimando a minha memória com beijos do que ontem foi, do que morreu com a madrugada de hoje, com o despontar desta manhã que assisto sem ti, separados pelos quilómetros de areia.


Porque caminhas, ainda, atrás de mim? Murmurando verdades que não ousas dizer com palavras, mas que empurras com olhos acutilantes, abrindo fendas no meu peito, implodindo o que sinto por quem julgo que és. És tu ainda, não és? És tu ainda quem me segue de longe, ora acelerando o passo, ora deixando-se ficar para trás, mas surgindo sempre por detrás da aurora que só nasce para mim.


Porque para ti é sempre noite.

Para ti somos sempre os dois naquela noite. Somos sempre os que não sabem o que querem, os que caminham a favor do vento e bebem chuva com os dedos. Os que se cortam no gume do amor e voltam cicatrizados por pura magia. Para ti somos isso: pele que se renova outra e outra vez. Indolentes. Imortais.

Infinitos.

Porque caminhas, ainda, atrás de mim? Caminha comigo, caminha a meu lado. Respira sobre os meus olhos a verdade que também é minha, e cobre o meu peito com recordações futuras, passadas debaixo do sol nascido.

Ou pára.
Porque eu também paro.

Sejamos a ausência absoluta de movimento;
Sejamos a distância entre as nossas marchas;
E existamos assim até o perder dos sentidos.





“… e os que passaram por eles, incrédulos e sem compreender a sua inconsciência, nunca chegariam a saber que padeceram de um não beijar até ao desmaio.”

This unholy notion of the mythic power of love...





" Thank you for this bitter knowledge
Guardian angels who left me stranded
It was worth it, feeling abandoned
Makes one hardened ...

...but what has happened to love?

You got me writing lyrics on postcards
Then in the evening looking at the stars
But the brightest of the planets is Mars

What has happened to love?


Go or go ahead and surprise me..."






-Go or go ahead-
Rufus Wainwright






Merci Rita.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

sábado, 18 de outubro de 2008




"... E ao que eu vejo
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi
... E eu fiquei com tanto para dar
... E agora não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva.

E pudesse eu pagar de outra forma..."




-Ouvi dizer-
Ornatos Violeta





* * *




Pela primeira vez tenho tantas coisas para dizer e faltam-me as palavras certas.
De todos os lados, muros de silêncio.
De todos os cantos, olhares de soslaio que trazem presa.

E tu?
Sim, e tu?
Consegues escrever em betão armado?




domingo, 12 de outubro de 2008

sábado, 11 de outubro de 2008

Small bites of poetry... Here, there and everywhere.





"Triste é o virar de costas, o último adeus...
... sabe Deus o que quero dizer.

Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar p'ra mim.
Escutar quem sou.
E se ao menos tudo fosse igual a ti..."






-Fácil de entender-
The Gift








sexta-feira, 3 de outubro de 2008


...

Promete-me que o tom confuso com que, hoje, em meu ouvido sussurraste, não tenha sido a dolorosa manifestação de que tudo, em ti, já, é memória.

sábado, 27 de setembro de 2008

De olhos fechados


Se fechar os olhos sem força, consigo ver-me ainda entrar por aquela porta e mergulhar no burburinho da tua rotina. Ainda hoje, quando inspiro fundo, sinto o cheiro do café que derramei na tua camisa; Sinto com a tua pele a queimadura que te ofereci envolta num grande laço de fumo. Não me lembro que livro lia nesse dia. Foste o único que me fez esquecer as palavras que não se dizem nunca, porque são ecos na mente dos que vivem dentro de si mesmos. Na mente dos que vivem como eu: ora longe, ora perto... Ora em parte nenhuma dos dias que não correm porque acorrentados ao tempo que não passa. Ao tempo que se arrasta em círculos no ponto de partida. Na mente dos que vivem as Zero Horas para sempre da mesma maneira.

Quando me afundo no sofá lembro-me do teu traçar de perna. De como eras despreocupadamente especial. De como não tinhas noção que quando me olhavas fazia-lo sempre de baixo. De como aquele beijo fez de mim gigante entre as nuvens. De como salvavas pessoas de si mesmas, com olhares rápidos e ternos, na avenida que intermediava a tua casa e o fim do mundo.

Se fechar os olhos sem força, vejo-te, de novo, a tirar a canção do bolso e pousá-la em cima da cama. De como mesmo quando já não estavas, ela se cantou sozinha para mim. Lembro-me sempre de ti assim: música no vazio, Luz em noites cerradas.

Hoje sinto o arder de quando me sorriste e disseste que desperdiçar café num estranho era uma arte só minha. Ainda me queimas com o simples facto de um dia termos existido ao mesmo tempo, no mesmo espaço, quebrando a Física. E agora, quando fecho os meus olhos sem força, com o mesmo amor de ontem, adormeço. Um sono intermitente, pequenino, ao som da música que me deixaste:

És o dedilhar de uma guitarra num final de noite que trago, em chamas, junto ao peito.






terça-feira, 23 de setembro de 2008

I'm Supertramp... and you're super apple!









There is a pleasure in the pathless woods;
There is a rapture on the lonely shore;
There is society, where none intrudes,
By the deep sea, and music in its roar:

I love not man the less, but Nature more...



- Lord Byron




Para evasão momentânea, clickar aqui.



domingo, 14 de setembro de 2008

World Art Friends

.
Eu já concorri com um par de trabalhos... para quem esteja interessado, passo a publicidade gratuita aos Amigos da Arte.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Though your heart is aching...



"...Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear, may be ever so near,
That's the time, you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile,
If you'll just....
Smile ."




(Pode parecer piroso, mas é uma verdade a ser lembrada... constantemente.)

Para ouvir a música, façam a pergunta certa. E clickem.


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

"Para onde ides vós, América, no vosso automóvel a cintilar pela noite fora?"


(Foto tirada do carro, quando voltava do Alentejo... gostei das cores.)



"Que sentimento é esse que temos quando vamos de carro e nos afastamos das pessoas e elas vão diminuindo de tamanho na planície até vermos as suas manchas dispersar? É o mundo demasiado grande a pesar-nos, é o adeus. Contudo, curvamo-nos avançando para a próxima louca aventura debaixo do céu."


(Sal em Pela Estrada Fora, por Jack Kerouac)

domingo, 31 de agosto de 2008

Faço minhas as palavras do Gigante


"Sou um homem ridículo. Agora já quase me tomam por louco. O que significaria ter ganho em consideração, se não continuasse a ser um homem ridículo. Mas eu já não me aborreço por causa disso, agora já não guardo rancor a ninguém e gosto de toda a gente, ainda que se riam de mim... sim senhor; agora, não sei porquê, sinto por todos os meus semelhantes uma ternura especial. Teria muito gosto em acompanhá-los no vosso riso... não, precisamente, nesse riso à minha custa, mas pelo carinho que me inspiram, se não me fizesse tanta pena ver-vos. É pena que não saibam a verdade. Oh, meu Deus!, como é doloroso ser um só a saber a verdade! Mas isto não o compreendem eles. Não, nunca o compreenderiam."


(Dostoievski, em O sonho de um homem ridículo)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Where I end and you begin



Estendo-te a mão para que subas comigo. Até não haver chão. Até caminharmos sobre o ar. Quero que me sigas para que te sentes a meu lado no topo do mundo, onde o som não se propaga e a chamas se apagam com a doce ausência do existir. Quero que apertes os meus dedos quando estivermos quase no cume. Quero que sintas o meu arrepio subir-te pela espinha, abraçar-te a nuca e beijar-te os olhos com frio. Que vejas o nascer do dia no fim do dia. Que vejas como o terminar é o começar de outro nada que mastigo com a tua boca. Quero que adormeças o pulso por instantes e sintas o momento latejar na ponta da tua língua…senti-la gotejar sonhos e aspirações. Quero que os ponhas todos de lado e que sustenhas a respiração; que deixes que os teus olhos se encham de almas que não a tua. Quero que sejas um mundo no teu corpo único. Que sejas eu na palma da tua mão, percorrendo os teus dedos, apertando as tuas unhas… e finalmente voltando a mim com um choque.

Somos explosões mudas.
Electricidade vazia.

Quero que largues a minha mão quando o silvo soar. Aquele que não se ouve, mas se sente formigar debaixo dos nossos pés e os morde com ternuras. Quero que sejamos tu e eu quando estivermos em brasas mortas. Que te lembres que mesmo quando somos um, somos sempre dois: Tu e eu, sem toques e sem palavras.
Quero que olhes sempre em frente, quando chegarmos. Que grites para dentro e não interrompas as minhas lágrimas. Porque eu vou chorar… lágrimas quentes e gordas de medos e alegrias, amores e desgostos, paixões e desavenças. Vou chorar o ódio que tenho por tudo, quando o meu amor por tudo for demasiado para o aguentar dentro do meu peito. Nesse momento, não tenhas medo: peço-te que olhes em frente, e que te lembres que odeio a ordem das coisas porque não sei como amá-la mais. Que a odeio porque a amo, e mesmo quando a mato, faço-o porque não sei como odiá-la mais.

Um pé à frente do outro, caminhamos sobre o nada. Somos ar. Somos a transparência das emoções quando o sentir é mera banalidade de mendigos. Estamos no topo, somos o topo, somos o fim do mundo que deixamos para trás. O fim do início e o início de outro início que não tem fim.

Somos a continuação de todas as coisas.
O amanhã que tarda.

Enlacemos as nossas mãos e sejamos separados, ainda assim. Sejamos sempre a ausência de dois corpos. Sejamos vento que chora e espanto que cala. O frio que corta e a brisa que embala. A luz que queima e o som que apunhala…
Sejamos sempre, e para sempre, a voz que não se ouve, mas, que para sempre, intervala:

O meu ser e o teu ser.





domingo, 3 de agosto de 2008

Ele e Ela

Sei quem ele é
ele é bom rapaz
um pouco tímido até
vivia no sonho de encontrar o amor
pois seu coração pedia mais,
mais calor

Ela apareceu
e a beleza dela
desde logo o prendeu
gostam um do outro e agora ele diz
que alcançou na vida o maior bem,
é feliz.

Só pensa nela
a toda a hora
jonha com ela
p'la noite fora
chora por ela
se ela não vem

Só fala nela
cada momento
vive com ela
no pensamento
ele sem ela
não é ninguém

Sei quem ele é
ele é bom rapaz
um pouco tímido até
vivia no sonho de encontrar o amor
pois seu coração pedia mais,
mais calor

Ela apareceu
e a beleza dela
desde logo o prendeu
gostam um do outro
e agora ele diz
que alcançou na vida o maior bem,
é feliz.

Só pensa nela
a toda a hora
sonha com ela
p'la noite fora
chora por ela
se ela não vem

Só fala nela
cada momento
vive com ela
no pensamento
ele sem ela não é ninguém
ele sem ela não é ninguém
ele sem ela não é ninguém 

"Neste cantinho à beira-mar plantados", Festival Eurovisão - 1966
Letra: Carlos Canelhas
Interpretação: Madalena Iglésias

domingo, 27 de julho de 2008

A frase perfeita...



... que descreve como sinto desde sempre:





"A solidão desola-me;
a companhia oprime-me."




(Fernando Pessoa)








sexta-feira, 25 de julho de 2008

As palavras que nunca te disse




Agora que se passaram mil vidas entre o começo da minha e o despertar da tua (com o meu primeiro grito), posso dizer que ainda gosto de ti. Posso dizer que gosto de ti como gostava de ti quando não sabia o que era gostar.

Gosto de ti quando me obrigavas a usar aqueles laços amarelos no cabelo, que eu detestava,

Gosto de ti quando não me deixavas sair com medo que eu crescesse depressa demais,

Gosto de ti quando fazias a dobra do lençol sobre o meu rosto,

Gosto de ti quando deixavas a luz do candeeiro acesa até eu adormecer (lembras-te dele? O pé era uma menina com um grande chapéu e um cesto nos braços. Lembro-me de como tinha aquelas fitinhas rosa pendentes em que eu gostava de passar a mão e de como eram macias nos meus dedos pequeninos…),

Gosto de ti quando deixavas a porta do meu quarto entreaberta para eu ver a luz da cozinha acesa ao longe, e não me sentir sozinha no escuro,

Gosto de ti quando me dizias que era feio assobiar,

Gosto de ti quando me ralhavas porque eu brincava com aquelas bonecas caras que querias que ficassem para sempre na prateleira mais alta,

Gosto de ti quando me deixaste ir de férias sozinha pela primeira vez,

Gosto de ti quando não me deixavas pintar no quarto, com medo que riscasse o chão,

Gosto de ti me quando me deste aquela bofetada na rua por me apanhares a fumar no jardim,

Gosto de ti quando eu estava doente e me pedias para não chorar, para que não chorasses também (um pedido feito com uma voz embargada e olhos rasos de água),

Gosto de ti quando me disseste que podia contar-te quando acontecesse,

Gosto de ti quando discutias com o pai,

Gosto de ti quando preferias o mano,

Gosto de ti quando me fazias querer sair de casa e mandar tudo para o Inferno (e foram tantas, tantas vezes…),

Gosto de ti quando implicavas com o meu cabelo,

Gosto de ti quando me proibias de comprar mais roupa preta,

Gosto de ti quando me dizias “Não precisas deles para nada!” (e me gritavas com esses olhos que não havia nada de errado em precisar de ti),

Gosto de ti quando íamos às compras e cedias aos meus caprichos,

Gosto de ti quando fomos ao casamento e me disseste que estava linda,

Gosto de ti quando disseste que ias pegar no carro e desaparecer (e me agarrei a ti e te supliquei que não fosses),

Gosto de ti quando me disseste que sempre quiseste uma menina,

Gosto de ti quando me ralhavas por não ter feito a cama,

Gosto de ti quando me gritavas,

Quando me beijavas,

Quando me ferias com palavras.

E tudo porque ainda me gritas, e ainda me beijas, e ainda me magoas com olhares. Tudo porque ainda me fazes querer, às vezes, não gostar de ti. Porque me tornaste incapaz de não te amar.

Mesmo quando te odeio.

Mesmo quando te mato.

E mesmo quando já não estás aqui.




sábado, 5 de julho de 2008

Entre nós, os anos


Foi quando o sol finalmente nasceu e a noite deixou de me pesar nos ombros que me decidi: Vou fugir.

Fechei as janelas, beijei os lençóis e murmurei um adeus ao agora. Quero o que ainda está por vir, tenho pressa no futuro. Quero ser atropelada pelo destino e tu esmagas-me com a tua vontade. Sufocas-me com o teu poder de decisão que é vazio. Com as tuas mãos com as quais julgas poder moldar quem és. Mas não podes… e o teu poder é indecisão.
Controlas a próxima dúvida que tens, não o caminho que tomas. Não és dono de ti, não és dono de nada. Não tens respostas. Nem para ti, nem para mim. E eu nunca te pergunto nada… e espero: O Tempo. Tenho que esperar pelo que não sei e confiar que o que não sei virá porque tem que vir. E mesmo quando bato a porta e saio por esse mundo afora, eu sei que não tinha escolha. Eu sei que é suposto que eu fuja, que eu corra, que não me esconda. E não me escondo… piso o chão com força e deixo marcas. Quero que saibas sempre em que direcção corro; que saibas sempre que tens que correr atrás de mim, correr para mim; sobre mim.


E Comigo.

Mesmo que me vejas sair e me esperes entre os lençóis que beijo de longe, aceleras o passo. Atravessas a mesma porta com os olhos, e esbarras com o mesmo estranho que eu esbarrei numa outra cidade, num outro país, numa outra vida. Corres comigo. Não sabes que sim…Mas corres sobre mim e comigo… E às vezes, à minha frente…E tomas o mesmo comboio que eu para parte nenhuma.
Porque o Tempo é nada, somos as mesmas pessoas para sempre. És ainda quem deixei naquela manhã, és ainda quem vive o meu destino, porque é o teu. E mesmo que nunca mais te veja, vejo-te todos os dias. Todos os instantes.

Sempre.


Talvez um dia regresse a casa, talvez o vento me traga de volta. Talvez a maré ou o serviço postal. Talvez volte numa carta. Ou, quem sabe, numa música que oiças, num fim de tarde quente, em que folheies uma antologia poética de alguém. Sabes que sou poesia…e sabes que volto. Porque eu não sou dona de mim, não sou dona de nada. Não tenho respostas. Nem para ti, nem para mim. Por isso volto.
E se tiver que ser contigo, serei contigo. Ainda que numa frase de Whitman, ainda que no despontar duma manhã.
E se tiveres que ser comigo, serás comigo. Ainda que a medo, ainda que demores a alcançar-me:


Serás tu
e eu
e os anos entre nós.




sexta-feira, 4 de julho de 2008

...mas ardem, ardem, ardem!







"... porque as únicas pessoas autênticas, para mim, são as loucas, as que estão loucas por viver, loucas por falar, loucas por serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, as que não bocejam nem dizem nenhum lugar-comum, mas ardem, ardem, ardem como fabulosas grinaldas amarelas de fogo-de-artifício a explodir, semelhantes a aranhas, através das estrelas e, no meio, vê-se o clarão azul a estourar e toda a gente exclama: «Aaaah!»..."



(de "Pela estrada fora", Jack Kerouac)




segunda-feira, 30 de junho de 2008

Um todo e...fragmentos


No sossego da minha ignorância,

Sólidos pensamentos meditam no espaço brando da reflexão.

Robusta esperança, esta, de ser livre,

Tornar a racionalidade serva de emancipação.

- Qual a justa medida que procuro? Entre cada fragmento, qual deles diz mais de mim?


Que demanda tão podre e estéril,

Fecundando pensamentos inauditos à razão.

Espreitar a cor da liberdade em sinuosas sombras

É quebrar no pleno da certeza de existir,

Mas em que existência, eu ainda creio, se ainda consigo sentir?

Na de índole interna, ou no efeito fiel do disfarce?

- Sempre que "disse"...porque fragmento o fiz?


Quero continuar a respirar por entre este estouvado percurso,

Continuar a obedecer ao frenesi das minhas indecisões.

Desejando a liberdade, mas amando razão

Ainda que desconhecendo o final em tamanha agitação.

Vou consumindo o tempo que é terminante,

Pouco a pouco desprezando a aptidão de discernir,

Ainda assim, menos livre que a pouco,

Temporalmente reiterando o poder de sentir.


- Não sei se já sou capaz. Não sei por quem já sou!


A essência, talvez, não seja a liberdade ou a razão,

O âmago está antes no acordo volúvel das forças.

O poder de criar livremente narrado pela razão

Germinando a capacidade mais pura de todas...

A capacidade de sentir…fechando os olhos e buscando cada paisagem, para além, da razões brutas e liberdades exaltadas.

Nasçamos de novo, vivamos outra vez!