sexta-feira, 21 de março de 2008

Zero Horas




Tenho, na minha garganta, um segredo por te gritar

Que me queima por dentro e me faz acreditar:

No dia em que souber que o meu mundo acabou

Vou soprar-te esta verdade e perguntar-te quem eu sou.



«Na madrugada em que, por um acaso, nos encontramos à beira rio, soube nos teus olhos que tinhas o mesmo segredo.
O teu grito era o meu grito.»



Entre passos de fantasma e restolhar de alucinação,

Pergunto-me se me segues enquanto corro na escuridão.

Se és a droga que me inebria e o dedo do destino,

Prende-te à minha loucura e corre no desatino...



«... comigo.

Seremos loucos e sozinhos.»



Passos acelerados: daqui à morte, uma pulsação!

Elevemo-nos na noite e façamo-nos turbilhão.

Beija-me, agora que morro, antes que te tenha tempo de te soprar

A verdade de que sou feita e antes que te possa perguntar...

...Quem sou eu?



«Deitámo-nos lado a lado e existimos, ao mesmo tempo, no coração do mundo.

Fomos a Meia-Noite do dia seguinte que nunca nasceu.»



Somos o mesmo, tu e eu.

A linha do horizonte.

Céu e Mar que se tocam.

Somos o arrepio gelado numa madrugada de Verão.

O último sonho da manhã.

O silêncio da cidade na hora de ponta.

Somos os anos.

O bater do coração de um morto.

O estagnar das horas.

Somos o cigarro que nunca se acende.

O preto.

O branco.

Somos cinzento.

A memória.

Eternos e efémeros.

Somos para sempre até ao momento em que para sempre paramos de ser.

E acalmamos o grito. E abraçamos o nada.


E fomos.



1 comentário:

John disse...

Excelente registo.

5*