domingo, 26 de outubro de 2008




Porque caminhas, ainda, atrás de mim? Abrandaste o passo, cobres as minhas pegadas para não deixares marca do teu existir comigo, mas sinto-te respirar sobre a minha nuca, cobrindo-me as costas, queimando a minha memória com beijos do que ontem foi, do que morreu com a madrugada de hoje, com o despontar desta manhã que assisto sem ti, separados pelos quilómetros de areia.


Porque caminhas, ainda, atrás de mim? Murmurando verdades que não ousas dizer com palavras, mas que empurras com olhos acutilantes, abrindo fendas no meu peito, implodindo o que sinto por quem julgo que és. És tu ainda, não és? És tu ainda quem me segue de longe, ora acelerando o passo, ora deixando-se ficar para trás, mas surgindo sempre por detrás da aurora que só nasce para mim.


Porque para ti é sempre noite.

Para ti somos sempre os dois naquela noite. Somos sempre os que não sabem o que querem, os que caminham a favor do vento e bebem chuva com os dedos. Os que se cortam no gume do amor e voltam cicatrizados por pura magia. Para ti somos isso: pele que se renova outra e outra vez. Indolentes. Imortais.

Infinitos.

Porque caminhas, ainda, atrás de mim? Caminha comigo, caminha a meu lado. Respira sobre os meus olhos a verdade que também é minha, e cobre o meu peito com recordações futuras, passadas debaixo do sol nascido.

Ou pára.
Porque eu também paro.

Sejamos a ausência absoluta de movimento;
Sejamos a distância entre as nossas marchas;
E existamos assim até o perder dos sentidos.





“… e os que passaram por eles, incrédulos e sem compreender a sua inconsciência, nunca chegariam a saber que padeceram de um não beijar até ao desmaio.”

1 comentário:

David Bernardino disse...

claro que esta fantastico...