"Afasto o mar com um só grito,
e amo este amor com cara de susto."
-Um adeus perfeito-
Lídia Martinez
Ninguém ensina o amor ou o silêncio
"Para mim, esta é a mais bela e mais triste paisagem do mundo. [...] Foi aqui que o principezinho fez a sua aparição na Terra e, depois, desapareceu. Fixem bem esta paisagem para poderem reconhecer se um dia fizerem uma viagem a África e forem ao deserto. Se passarem por este sítio, suplico-vos: não tenham pressa, fiquem um bocadinho à espera mesmo por baixo da estrela! Se vier um menino ter convosco, um menino que se está sempre a rir, com cabelos cor de ouro e que nunca responde quando se lhe faz uma pergunta, já sabem quem ele é. E então, por favor, sejam simpáticos! Não me deixem assim triste: escrevam-me depressa a dizer que ele voltou..."
-O Principezinho-Antoine de Saint-Exupéry
"Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali..."
"A man of words and not of deeds
Is like a garden full of weeds,
And when the weeds begin to grow,
It’s like a garden full of snow.
And when the snow begins to fall,
It’s like a bird upon the wall,
And when the bird away does fly,
It’s like an eagle in the sky.
And when the sky begins to roar,
It’s like a lion at the door.
And when the door begins to crack,
It’s like a stick across your back,
And when your back begins to smart,
It’s like a penknife in your heart,
And when your heart begins to bleed,
You’re dead, you’re dead, you’re dead indeed."
Mas principalmente nas minhas palavras.
Na minha boca.
«Dispam-me de mim e deixem-me ser alma;
Calem-me o amor e deixem-me ser nada...»
É no choque com a água fria que sinto os anos de ausência de alguém que me veja com olhos de ver, com olhos que não me atravessem, mas que se prendam na doce lentidão da descontinuidade do meu pestanejar.
É no momento em que corro em círculos no meu quarto e levanto pó com os meus pés que sei que ainda sou prisioneira numa caixa de fósforos que já não podem arder.
“Húmidos das minhas lágrimas.”
E então juro que quero sorrir.
Juro que quero sair.
E prometo que ainda sou a mesma quando a última hora do dia dá de si.
Mas eles não querem saber.
Agora tudo o que consigo sentir na boca é gosto dos corações dilacerados
pela fome da madrugada que parte sem olhar para trás e bate com a porta:
num estrondo.
Num fechar de um livro velho.
Num último gole de café queimado que me morde os lábios com amor de plástico.
Tudo isto será, um dia, gasto…
... porque eu hei-de parar de chorar
(enterrar este Eu que hoje me arrasa);
E quando aquele fósforo secar,
ainda que nunca me vá perdoar,
Pego fogo a tudo nesta casa.
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"You've built all these rooftops
And painted them all in blue
If all this set just burns up will you paint the ashes?"
-Haunted home-
David Fonseca
Vem e cobre a minha sombra cansada, antes que o vento a disperse ao amanhecer. Pega-me nas mãos, apaga a dor da luz nas pálpebras e leva-me. Leva-me se puderes, de regresso à noite das cidades, ou estaremos condenados a arder no acre suco dos eufórbios..."
-Lunário-
Al Berto
Finalmente fomos apenas tu, eu e o eco do silêncio, dentro de uma caixa de fósforos.
Não te via, mas soube que tinhas os olhos abertos, mergulhados nas trevas, na esperança de veres o meu rosto iluminar-se com o sorriso meigo que sempre te ofereci sem cobranças… Mas passado tanto tempo, já não te sorrio no escuro. Não te passo a mão pelo rosto nem te aconchego, nos meus sonhos, com os lábios.
Ouvi música, vi o mar, corri num campo aberto. E no centro do meu mundo, a vibração do pulsar de uma réstia de vida.
E então, procurei-te.
E tu permaneceste imóvel.
E limpaste as lágrimas.
E beijaste-me com força, com certeza, até a minha alma se sentir beijada.
"Esta mesma rapariga, entenda as mulheres quem puder, que é a mais bonita de todas as que aqui se encontram, a de corpo mais bem feito, a mais atraente, a que todos passaram a desejar quando correu a voz do que valia, foi afinal, uma noite destas, meter-se por sua própria vontade na cama do velho da venda preta, que a recebeu como chuva de Verão e cumpriu o melhor que podia, bastante bem para a idade, ficando por esta via demonstrado, mais uma vez, que as aparências são enganadoras, e que não é pelo aspecto da cara e pela presteza do corpo que se conhece a força do coração."
"Home... I can't say where it is but I know I'm going home
That's where the hurt is."
“Amar é bom se houver no fundo de um de nós alguma solidão.”
-Deixa morrer-
Ornatos Violeta
Ninguém ensina o amorou o silêncio..."
“… e os que passaram por eles, incrédulos e sem compreender a sua inconsciência, nunca chegariam a saber que padeceram de um não beijar até ao desmaio.”
"Triste é o virar de costas, o último adeus...
... sabe Deus o que quero dizer.
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar p'ra mim.
Escutar quem sou.
E se ao menos tudo fosse igual a ti..."
-Fácil de entender-
The Gift
Se fechar os olhos sem força, consigo ver-me ainda entrar por aquela porta e mergulhar no burburinho da tua rotina. Ainda hoje, quando inspiro fundo, sinto o cheiro do café que derramei na tua camisa; Sinto com a tua pele a queimadura que te ofereci envolta num grande laço de fumo. Não me lembro que livro lia nesse dia. Foste o único que me fez esquecer as palavras que não se dizem nunca, porque são ecos na mente dos que vivem dentro de si mesmos. Na mente dos que vivem como eu: ora longe, ora perto... Ora em parte nenhuma dos dias que não correm porque acorrentados ao tempo que não passa. Ao tempo que se arrasta em círculos no ponto de partida. Na mente dos que vivem as Zero Horas para sempre da mesma maneira.
Quando me afundo no sofá lembro-me do teu traçar de perna. De como eras despreocupadamente especial. De como não tinhas noção que quando me olhavas fazia-lo sempre de baixo. De como aquele beijo fez de mim gigante entre as nuvens. De como salvavas pessoas de si mesmas, com olhares rápidos e ternos, na avenida que intermediava a tua casa e o fim do mundo.
Se fechar os olhos sem força, vejo-te, de novo, a tirar a canção do bolso e pousá-la em cima da cama. De como mesmo quando já não estavas, ela se cantou sozinha para mim. Lembro-me sempre de ti assim: música no vazio, Luz em noites cerradas.
Hoje sinto o arder de quando me sorriste e disseste que desperdiçar café num estranho era uma arte só minha. Ainda me queimas com o simples facto de um dia termos existido ao mesmo tempo, no mesmo espaço, quebrando a Física. E agora, quando fecho os meus olhos sem força, com o mesmo amor de ontem, adormeço. Um sono intermitente, pequenino, ao som da música que me deixaste:
És o dedilhar de uma guitarra num final de noite que trago, em chamas, junto ao peito.
There is a pleasure in the pathless woods;
There is a rapture on the lonely shore;
There is society, where none intrudes,
By the deep sea, and music in its roar:
I love not man the less, but Nature more...
- Lord Byron
Para evasão momentânea, clickar aqui.
"...Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear, may be ever so near,
That's the time, you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile,
If you'll just....
Smile ."
Estendo-te a mão para que subas comigo. Até não haver chão. Até caminharmos sobre o ar. Quero que me sigas para que te sentes a meu lado no topo do mundo, onde o som não se propaga e a chamas se apagam com a doce ausência do existir. Quero que apertes os meus dedos quando estivermos quase no cume. Quero que sintas o meu arrepio subir-te pela espinha, abraçar-te a nuca e beijar-te os olhos com frio. Que vejas o nascer do dia no fim do dia. Que vejas como o terminar é o começar de outro nada que mastigo com a tua boca. Quero que adormeças o pulso por instantes e sintas o momento latejar na ponta da tua língua…senti-la gotejar sonhos e aspirações. Quero que os ponhas todos de lado e que sustenhas a respiração; que deixes que os teus olhos se encham de almas que não a tua. Quero que sejas um mundo no teu corpo único. Que sejas eu na palma da tua mão, percorrendo os teus dedos, apertando as tuas unhas… e finalmente voltando a mim com um choque.
Somos explosões mudas.
Electricidade vazia.
Quero que largues a minha mão quando o silvo soar. Aquele que não se ouve, mas se sente formigar debaixo dos nossos pés e os morde com ternuras. Quero que sejamos tu e eu quando estivermos em brasas mortas. Que te lembres que mesmo quando somos um, somos sempre dois: Tu e eu, sem toques e sem palavras.
Quero que olhes sempre em frente, quando chegarmos. Que grites para dentro e não interrompas as minhas lágrimas. Porque eu vou chorar… lágrimas quentes e gordas de medos e alegrias, amores e desgostos, paixões e desavenças. Vou chorar o ódio que tenho por tudo, quando o meu amor por tudo for demasiado para o aguentar dentro do meu peito. Nesse momento, não tenhas medo: peço-te que olhes em frente, e que te lembres que odeio a ordem das coisas porque não sei como amá-la mais. Que a odeio porque a amo, e mesmo quando a mato, faço-o porque não sei como odiá-la mais.
Um pé à frente do outro, caminhamos sobre o nada. Somos ar. Somos a transparência das emoções quando o sentir é mera banalidade de mendigos. Estamos no topo, somos o topo, somos o fim do mundo que deixamos para trás. O fim do início e o início de outro início que não tem fim.
Somos a continuação de todas as coisas.
O amanhã que tarda.
Sejamos sempre, e para sempre, a voz que não se ouve, mas, que para sempre, intervala:
O meu ser e o teu ser.
Sei quem ele é
ele é bom rapaz
um pouco tímido até
vivia no sonho de encontrar o amor
pois seu coração pedia mais,
mais calor
Ela apareceu
e a beleza dela
desde logo o prendeu
gostam um do outro e agora ele diz
que alcançou na vida o maior bem,
é feliz.
Só pensa nela
a toda a hora
jonha com ela
p'la noite fora
chora por ela
se ela não vem
Só fala nela
cada momento
vive com ela
no pensamento
ele sem ela
não é ninguém
Sei quem ele é
ele é bom rapaz
um pouco tímido até
vivia no sonho de encontrar o amor
pois seu coração pedia mais,
mais calor
Ela apareceu
e a beleza dela
desde logo o prendeu
gostam um do outro
e agora ele diz
que alcançou na vida o maior bem,
é feliz.
Só pensa nela
a toda a hora
sonha com ela
p'la noite fora
chora por ela
se ela não vem
Só fala nela
cada momento
vive com ela
no pensamento
ele sem ela não é ninguém
ele sem ela não é ninguém
ele sem ela não é ninguém
"Neste cantinho à beira-mar plantados", Festival Eurovisão - 1966
Agora que se passaram mil vidas entre o começo da minha e o despertar da tua (com o meu primeiro grito), posso dizer que ainda gosto de ti. Posso dizer que gosto de ti como gostava de ti quando não sabia o que era gostar.
Gosto de ti quando me obrigavas a usar aqueles laços amarelos no cabelo, que eu detestava,
Gosto de ti quando não me deixavas sair com medo que eu crescesse depressa demais,
Gosto de ti quando fazias a dobra do lençol sobre o meu rosto,
Gosto de ti quando deixavas a luz do candeeiro acesa até eu adormecer (lembras-te dele? O pé era uma menina com um grande chapéu e um cesto nos braços. Lembro-me de como tinha aquelas fitinhas rosa pendentes em que eu gostava de passar a mão e de como eram macias nos meus dedos pequeninos…),
Gosto de ti quando deixavas a porta do meu quarto entreaberta para eu ver a luz da cozinha acesa ao longe, e não me sentir sozinha no escuro,
Gosto de ti quando me dizias que era feio assobiar,
Gosto de ti quando me ralhavas porque eu brincava com aquelas bonecas caras que querias que ficassem para sempre na prateleira mais alta,
Gosto de ti quando me deixaste ir de férias sozinha pela primeira vez,
Gosto de ti quando não me deixavas pintar no quarto, com medo que riscasse o chão,
Gosto de ti me quando me deste aquela bofetada na rua por me apanhares a fumar no jardim,
Gosto de ti quando eu estava doente e me pedias para não chorar, para que não chorasses também (um pedido feito com uma voz embargada e olhos rasos de água),
Gosto de ti quando me disseste que podia contar-te quando acontecesse,
Gosto de ti quando discutias com o pai,
Gosto de ti quando preferias o mano,
Gosto de ti quando me fazias querer sair de casa e mandar tudo para o Inferno (e foram tantas, tantas vezes…),
Gosto de ti quando implicavas com o meu cabelo,
Gosto de ti quando me proibias de comprar mais roupa preta,
Gosto de ti quando me dizias “Não precisas deles para nada!” (e me gritavas com esses olhos que não havia nada de errado em precisar de ti),
Gosto de ti quando íamos às compras e cedias aos meus caprichos,
Gosto de ti quando fomos ao casamento e me disseste que estava linda,
Gosto de ti quando disseste que ias pegar no carro e desaparecer (e me agarrei a ti e te supliquei que não fosses),
Gosto de ti quando me disseste que sempre quiseste uma menina,
Gosto de ti quando me ralhavas por não ter feito a cama,
Gosto de ti quando me gritavas,
Quando me beijavas,
Quando me ferias com palavras.
E tudo porque ainda me gritas, e ainda me beijas, e ainda me magoas com olhares. Tudo porque ainda me fazes querer, às vezes, não gostar de ti. Porque me tornaste incapaz de não te amar.
Mesmo quando te odeio.
Mesmo quando te mato.
E mesmo quando já não estás aqui.
Foi quando o sol finalmente nasceu e a noite deixou de me pesar nos ombros que me decidi: Vou fugir.
Fechei as janelas, beijei os lençóis e murmurei um adeus ao agora. Quero o que ainda está por vir, tenho pressa no futuro. Quero ser atropelada pelo destino e tu esmagas-me com a tua vontade. Sufocas-me com o teu poder de decisão que é vazio. Com as tuas mãos com as quais julgas poder moldar quem és. Mas não podes… e o teu poder é indecisão.
Controlas a próxima dúvida que tens, não o caminho que tomas. Não és dono de ti, não és dono de nada. Não tens respostas. Nem para ti, nem para mim. E eu nunca te pergunto nada… e espero: O Tempo. Tenho que esperar pelo que não sei e confiar que o que não sei virá porque tem que vir. E mesmo quando bato a porta e saio por esse mundo afora, eu sei que não tinha escolha. Eu sei que é suposto que eu fuja, que eu corra, que não me esconda. E não me escondo… piso o chão com força e deixo marcas. Quero que saibas sempre em que direcção corro; que saibas sempre que tens que correr atrás de mim, correr para mim; sobre mim.
E Comigo.
Mesmo que me vejas sair e me esperes entre os lençóis que beijo de longe, aceleras o passo. Atravessas a mesma porta com os olhos, e esbarras com o mesmo estranho que eu esbarrei numa outra cidade, num outro país, numa outra vida. Corres comigo. Não sabes que sim…Mas corres sobre mim e comigo… E às vezes, à minha frente…E tomas o mesmo comboio que eu para parte nenhuma.
Porque o Tempo é nada, somos as mesmas pessoas para sempre. És ainda quem deixei naquela manhã, és ainda quem vive o meu destino, porque é o teu. E mesmo que nunca mais te veja, vejo-te todos os dias. Todos os instantes.
Talvez um dia regresse a casa, talvez o vento me traga de volta. Talvez a maré ou o serviço postal. Talvez volte numa carta. Ou, quem sabe, numa música que oiças, num fim de tarde quente, em que folheies uma antologia poética de alguém. Sabes que sou poesia…e sabes que volto. Porque eu não sou dona de mim, não sou dona de nada. Não tenho respostas. Nem para ti, nem para mim. Por isso volto.
E se tiver que ser contigo, serei contigo. Ainda que numa frase de Whitman, ainda que no despontar duma manhã.
E se tiveres que ser comigo, serás comigo. Ainda que a medo, ainda que demores a alcançar-me:
Serás tu
e eu
e os anos entre nós.
No sossego da minha ignorância,
Sólidos pensamentos meditam no espaço brando da reflexão.
Robusta esperança, esta, de ser livre,
Tornar a racionalidade serva de emancipação.
- Qual a justa medida que procuro? Entre cada fragmento, qual deles diz mais de mim?
Que demanda tão podre e estéril,
Fecundando pensamentos inauditos à razão.
Espreitar a cor da liberdade em sinuosas sombras
É quebrar no pleno da certeza de existir,
Mas em que existência, eu ainda creio, se ainda consigo sentir?
Na de índole interna, ou no efeito fiel do disfarce?
- Sempre que "disse"...porque fragmento o fiz?
Quero continuar a respirar por entre este estouvado percurso,
Continuar a obedecer ao frenesi das minhas indecisões.
Desejando a liberdade, mas amando razão
Ainda que desconhecendo o final em tamanha agitação.
Vou consumindo o tempo que é terminante,
Pouco a pouco desprezando a aptidão de discernir,
Ainda assim, menos livre que a pouco,
Temporalmente reiterando o poder de sentir.
- Não sei se já sou capaz. Não sei por quem já sou!
A essência, talvez, não seja a liberdade ou a razão,
O âmago está antes no acordo volúvel das forças.
O poder de criar livremente narrado pela razão
Germinando a capacidade mais pura de todas...
A capacidade de sentir…fechando os olhos e buscando cada paisagem, para além, da razões brutas e liberdades exaltadas.
Nasçamos de novo, vivamos outra vez!