Fechando os olhos vou esquecendo...
a imagem anterior fica momentaneamente gravada na minha memória,
mas por momentos estagna a minha castidade racional.
É bom fechar os olhos, é bom desprezar por instantes a nossa faculdade de pensar,
e tornarmo-nos autómatos da nossa mente, vaguear por meandros questionáveis,
percorrermos atalhos inalcançáveis, buscando e encontrando destinos que julgávamos não conhecer.
Afinal o que somos? E a que “vagão” pertencemos?
Ao que realmente podemos ainda que penosamente influenciar,
aquele que nos permite usar a tal faculdade racional, ainda que de forma condicionada?
O vagão que juramos, todos a pés juntos, pertencer porque cá temos tudo e porque tudo podemos controlar?
Ou pertencemos antes, ao mundo das sete vidas, aquele que rotineiramente alcançamos, quando subitamente fechamos os olhos...
e ao qual caímos por não podermos mais?
Esse incontrolável, inconsolável e ilógico universo onde convergem os mais profundos e inexplicáveis distúrbios e de onde heroicamente saímos sempre bem, voltando na jornada seguinte mais vigorosos que nunca.
É como se fossemos e viéssemos, prosseguíssemos e regredíssemos, ainda que quando por altura do regresso...
tudo volte à mesma forma, tudo esteja igual à altura que decidimos interromper o percurso.
Mas esta é uma viagem especial, pagamos o preço do tempo, damos por nós e quanto mais percorremos mais pesados ficamos, mais entorpecidos nos sentimos.
A responsabilidade vai fazendo troça de nós, rindo da nossa fragilidade...
A novela, essa, continua...os protagonistas não.
A noite é vazia e fria, escura e despejada.
Talvez por isso mesmo, todos optem por gostar de pertencer ao vagão da luminosidade, do brilho e do fulgor.
Porém a futilidade do dia, o fluxo da correria e da ligeireza, a ânsia bruta pela cópia,
tiram e voltam teimosamente a retirar, o brilhantismo, a transparência e o aspecto límpido ao vagão de preferência.
«O que rezas e o que me dizes silenciosamente?
Que coragem me suplicas, quando o desencanto se habitua, e eu, já, não te consigo ouvir?»
Prefiro pertencer à facção minoritária, caber no povoado da diferença,
deixar que não seja eu a controlar o rumo das coisas, eliminando também a possibilidade de outros o fazerem.
Tendo, porém, a convicção que o brilho das estrelas suplanta o aspecto tenebroso da existência corpórea,
e a certeza que a leviandade do quotidiano controlado pela faculdade racional não invada,
a pureza da humilde noite.
Prefiro, enfim, pensar que o espírito das gentes é capaz de terminar melhor a narração de suas vidas, que a fatal faculdade de elas pensarem.
Fechar os olhos é bom…
«Mais não te consigo dar...leva, tudo, o que de mim restou!»
«- Mas diz-me, porque me olham esses olhos escuros e preguisos?
Porque choras, tu, assim ?
- Choro, porque já não te sinto vida…choro porque deste lado já não sou eu.»
2 comentários:
Vi a ilustração de "Esquecimento-Dois caminhos" antes de ti e, sem saber que seria com esse fim, o de ilustrar este magnifico "apontamento", percebi logo de momento o seu significado, porém as palavras completam-no e valorizam-no!Profundo...Parabéns!*
john, como prometido cá estou eu a comentar e mais importante, a ler o teu blog. Sim, que para ler qualquer coisa escrita ou publicada por ti tenho de vir à net, já que não tenho direito ao teu minguado livro... é a vida, antigos amigos lol
Acerca do texto, parece que te tou a ver a recitar isto...é mesmo a tua cara joe!
Parabéns, escreves muitíssimo bem!!!
Queria dizer mais umas coisas, mas já fui avisado que coisas más eram imediatamente apagadas, portanto fico por aqui...não, à boa maneira de john de la Riffah, quero acrescentar que este texto é muito exequível lolol
Parabéns! beijinho*
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